segunda-feira, 26 de abril de 2010

A VARANDA


Na nossa casa, tenho algo peculiar... uma varanda que é a janela da nossa casa.
Ela proporciona-me tantas coisas belas... Vejo Lisboa, o Terreiro do Paço, o Castelo São Jorge, os barcos, os pescadores, aquelas regatas multicolores que fazem deste rio ainda mais belo, e finalmente o nascer e pôr do sol, algo de uma beleza indescritível, e para completar o quadro, nada como observar o voo das gaivotas.

Mas desta varanda que é a janela da nossa casa, por vezes pouco se vê o rio, apenas o nevoeiro e a neblina, que em certa altura do ano se entrelaçam um no outro. Apenas se escuta o apito dos barcos, quase como um clamor para poderem ver!...

Pode ser coincidência, mas é nestes dias que sou apanhado por momentos de nostalgia, não sei o por que... Será o tempo? Será por razões ancestrais, típicas de um povo por vezes apelidado de melancólicos? Nesses momentos transformo-me numa concha perguntando tanta coisa sobre mim, sobre a vida... Penso no que tive, no que vivi, no que poderia ter tido, no que me passou ao lado e finalmente, no que poderei ser, ou fazer!... São esses momentos em que nada me apetece... nem ver um bom programa televisivo, nem escutar música, nem ler, Hobbes que aprecio!... Mas de repente desperto deste sentimento de letargia. Quando escuto e vejo aquela criança, brincando, pulando, fazendo as suas traquinices, ainda agora mal aprendeu a andar e falar. Ela entra de repente na janela da minha alma, como raios de sol.
Olho ao redor e observo os olhares ternos e proteccionistas daquela mãe em ralação à sua cria, sempre com aquele sorriso encantador que me continua a fascinar.É nesses momentos
que naturalmente trocamos olhares e sentimos o quanto os filhos são tão importantes em nossas vidas!...
Logo desperto para a realidade e digo o quanto sou feliz.
Quando no nosso quotidiano vemos a televisão, os anúncios, as novelas, filmes, concursos, em que todos aparentam está felizes, se sai com os ditos amigos, e é ver qual se diverte mais, qual bebe mais, qual é o mais conquistador!...
Mas eu sei... que o mundo é assim, que a felicidade nada tem a ver com isto.
As pessoas nesta sociedade contemporânea tendem a mostrar que tudo está bem, tudo se pode fazer, mas a realidade está muito aquém disso, na maioria das vezes estão perdidas, procurando de uma forma errada a felicidade, a tranquilidade, assim parecido com a minha janela que é a varanda da nossa casa.
A verdadeira felicidade está em aceitarmos as coisas que a vida nos dá... pessoas, ensinamentos, experiências vividas e com ajuda de Deus saberemos tirar proveito dessas mesmo.
E dá graças pela vida, pela saúde, pelos filhos, pela companheira, pelos verdadeiros amigos. É está ao lado de quem se ama e por quem se é amado. Depois é simples... sabemos valorizar as pequenas coisas quotidianas, rituais que aos outros passam despercebidos. É ver a relação do casal se solidificar, é viver e sentir os filhos a crescerem.
É dialogar com eles nos seus momentos de incertezas, é escutar aquelas canções de embalar que aquela mãe canta para seu filho bebe tranquilizar, no seu sono.
É aquele perfume... que só ela tem!...
É nos deitarmos no fim de um dia, nos beijando num dizer de " boa noite amor". E por fim, forçadamente nossos olhos se fecham num convite para mais uma noite de descanso.
E com esforço, ainda penso e agradeço, como é bom ter uma janela que é a varanda da nossa casa.

Rui Figueira